domingo, 23 de novembro de 2008

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A aprendizagem artística trabalhada em sala de aula
tem como função desenvolver no aluno a competência
para criar, interpretar e refletir sobre a arte.
P A L A V R A
EDUARDO SANTALIESTRA
Rosa Iavelberg: “O ensino de arte requer um professor orientador, que incentiva a produção, o envolvimento e a constância do aluno”.
O ensino de arte
A educação em arte ganha crescente importância
quando se pensa na formação necessária para uma
adequada inserção social, cultural e profissional do
jovem contemporâneo. Ela imprime sua marca ao
demandar um sujeito da aprendizagem criador, propositor,
reflexivo e inovador. Se hoje o aluno deve
ser formado para enfrentar situações incertas e para
resistir às imposições de velocidade e de fragmentação
que caracterizam a contemporaneidade, a arte
pode colaborar e muito.
Na construção da identidade artística das crianças e
dos jovens que freqüentam as escolas, os professores
têm um papel significativo. Sua colaboração é ainda
maior quando sabem respeitar os modos de aprendizagem
e dedicar o tempo necessário a fornecer
orientações e conteúdos adequados para a formação
em arte, que inclui tanto saberes universais como
aqueles que se relacionam ao cotidiano do aluno.
É o professor quem promove o fazer artístico, a
leitura dos objetos estéticos e a reflexão sobre a arte,
Rosa Iavelberg
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Na construção da
identidade artística das
crianças e dos jovens que
freqüentam as escolas, os
professores têm um papel
significativo.
“ “
de modo que o aluno possa se desenvolver como um
sujeito governado por si próprio ao mesmo tempo em
que interage com os símbolos da cultura. Além de
debater os conteúdos específicos da área, o professor
deve estar atento para o temperamento de cada
aluno, observando suas ações e individualidade. Ou
seja, na formação em arte o plano da subjetividade
dialoga permanentemente com as informações e
orientações oferecidas pelo professor.
Acolher e exigir são os pólos da oscilação pendular,
que representa os movimentos do professor
nas orientações didáticas em arte. Dessa forma, são
criadas as condições para que o aluno sinta-se bem
ao manifestar seus pontos de vista e mostrar suas
criações artísticas na sala de aula, além de favorecer
a construção de uma imagem positiva de si mesmo
como conhecedor e produtor em arte.
Assim, fazem parte do conjunto de ações desenvolvidas
pelo professor nessa área: orientar os processos
de criação artística oferecendo suporte técnico,
acompanhando o aluno no enfrentamento dos obstáculos
inerentes à criação, ajudando-o na resolução
de problemas com dicas e perguntas e fazendo-o
acreditar em si mesmo; propor exercícios que aprimoram
a criação, informando-o sobre a História da
Arte; promover a leitura, a reflexão e a construção
de idéias sobre arte e ainda documentar os
trabalhos e textos produzidos para análise e
reflexão conjunta na sala de aula.
Cada imagem, cada gesto, cada som que
emerge nas formas artísticas criadas em
sala de aula têm grande importância, uma
vez que se referem ao universo simbólico
do aluno. Portanto, exigem a atuação
precisa do professor, o planejamento
do tempo, a organização do espaço e a
atenção aos processos de comunicação,
tanto entre professor e aluno como entre
os colegas de classe.
Uma aprendizagem artística assim percorrida
deixará marcas positivas na memória do aprendiz,
um sentimento de competência para criar, interpretar
objetos artísticos e refletir sobre arte sabendo
situar as produções. Além disso, o aluno aprende
a lidar com situações novas, inusitadas e
incorpora competências e habilidades
para expor publicamente suas produções
e idéias com autonomia.
Isso não significa que arte promova
a auto-estima num passe
de mágica, pela simples afirmativa
de que tudo o que o aluno
faz e pensa em arte é ótimo.
Cada um se sentirá confiante em relação a sua arte
à medida que aprender efetivamente, atendendo aos
três eixos de aprendizagem significativa: fazer, interpretar
e refletir sobre arte, sabendo contextualizá-la
como produção social e histórica.
Dominar os processos de criação em arte, construindo
um percurso cultivado, ou seja, informado
pela cultura requer um professor orientador, que
incentiva a produção, ensina os caminhos da criação
e solicita do aluno envolvimento e constância. O
apoio do professor, por sua vez, é alimentado pela sua
atualização permanente, necessária para se ter familiaridade
com o universo procedimental da arte.
EDUARDO SANTALIESTRA
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Cada imagem, cada gesto,
cada som que emerge nas
formas artísticas criadas
em sala de aula têm
grande importância, uma
vez que se referem ao
universo simbólico
do aluno.


Também as leituras de objetos artísticos,
outra competência que promove
a imagem positiva do aprendiz, devem
ter papel destacado na sala de aula,
porque além de cumprirem o papel de
formação cultural, conectam a aprendizagem
escolar ao patrimônio cultural.
A instância de formação escolar
integrada à produção social da arte é
um aprendizado para a participação
do jovem na sociedade. Ao atribuir e
extrair significados das produções de
críticos, historiadores da arte, jornalistas,
artistas, filósofos, com a mediação
do professor, os jovens compreendem
e se situam no mundo como agentes
transformadores.
Nesse percurso de construção de saberes, cada
aluno fará escolhas com liberdade e discernimento,
o que caracteriza os processos de criação em arte
e de aprendizagem autoral. Será, sim, influenciado
pelas culturas, mas contará com traços propositivos
e transformadores, próprios dos modos de continuar
aprendendo sempre e por si, dentro e fora da escola,
renovando-se em contato a diversidade de manifestações
artísticas que revelam o movimento contínuo da
arte e do conhecimento.
A vida cultural pode (e deve) transitar pela escola.
A visita a feiras e ateliês, mostras da cidade, apresentações
de dança, teatro e música tem o objetivo de
estabelecer a comunicação permanente entre o que
se estuda e a cultura em produção, além dos estudos
referentes à História da Arte. Um aluno preparado para
o futuro é aquele que acompanha seu tempo, ancorado
em uma sólida formação. Nesse aspecto, a arte
é, sem dúvida, uma base imprescindível por incluir as
formas simbólicas que dizem respeito à humanização
de todos os tempos e lugares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1985.
COLL, C. & MARTÍN E. & MAURI, T. & MIRAS, M. &
ONRUBIA, J. & SOLÉ, I. & ZABALA, A. O Construtivismo
na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.
FERRAZ, Maria Heloisa C. T. & FUSARI, Maria F. R. Arte
na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992.
FERNANDO, Hernandez & VENTURA, M. A organização
do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre:
Artmed, 1998.
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender Arte: sala de
aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2003.
________________. Material didático como meio de formação
– criação e utilização. In: Educação com arte/série
Idéias 31. São Paulo: FDE, 2004.
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental, MEC/SEF, 1997.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar.
Porto Alegre: Artmed, 1998.
CID
Rosa Iavelberg é doutora em Arte-Educação pela Escola
de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
(USP). Coordenou e elaborou os Parâmetros Nacionais
Curriculares do Ensino Fundamental de 1a a 4a séries.

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